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O guitarrista Kiko Loureiro, que entrou recentemente na banda norte-americana Megadeth, falou sobre o presente e o futuro do Angra, bem como a relação com Dave Mustaine, o líder do Megadeth.
Da última vez em que conversamos, em 2013, Fabio Lione fazia suas primeiras apresentações com o Angra. Depois, foi confirmado que o italiano iria gravar o álbum seguinte com vocês. Como foi essa decisão? E seguro afirmar que ele é um membro efetivo do Angra?
O Fabio realmente estava como convidado e, simplesmente, pelo fato de estar rolando bem a relação dentro da banda, a aceitação dos fãs, todo o clima que estava indo muito bem. Foi natural a gente manter o Fabio, em vez de procurar outro cantor. Quando a gente foi fazer as novas músicas, resolveu efetivar o Fabio na banda.
No fim de 2014 (Japão), início de 2015 (demais países), vocês lançaram o 'Secret garden'. Vocês sentem que o processo de composição e gravação deste álbum foi como (mais um) renascimento da banda?
Todo álbum tem uma ideia de renascimento. Para mim, todo álbum nasce porque você tem um motivo para fazer o álbum, para ser criativo, ter a sensação de um novo ciclo dentro da banda, dentro das suas ideias. Não é preciso mudar a formação nem nada, mas tem que existir isso. Alguns álbuns são mais felizes nessa tentativa e outros menos felizes. Nem sempre a banda está madura o suficiente para lançar e acaba lançando o disco. Tem vários fatores. Mas, para mim, todo álbum é como se fosse um renascimento. São marcos fortes na carreira da banda.
Além da estreia de Lione nos vocais em estúdio, 'Secret garden' foi também o primeiro trabalho da banda com o novo baterista Bruno Valverde. As críticas, no geral, foram bem positivas ao álbum. E você, como músico, ficou satisfeito com o trabalho apresentado?
É uma busca de evolução. Não sei te falar o quanto de evolução é. Eu não desconsidero que os primeiros discos ou outros discos são tão bons ou melhores do que outros que vieram depois. Então, são discos diferentes, em momentos diferentes. Mas, sempre quando a gente faz, acredita que a banda está no seu melhor momento. É claro que quando você olha com a distância temporal, percebe que aquele talvez não era o melhor momento. Mas, não tinha opção, né? Faz parte da vida esses momentos de gravação.Com o Secret Garden a gente está muito contente, como músico, banda, artistas, com o resultado do disco. Mas, eu sempre tenho essa perspectiva de encarar o disco com uma certa distância temporal. Aí, você fala, ‘olha esse disco realmente estava em uma época fantástica da banda’.
'Secret garden' conta com algumas participações especiais. Dentre elas, as de duas musas do metal mundial, Doro Pesch e Simone Simons. Como surgiu a ideia de convidá-las?
A gente já tinha uma música chamada 'Secret garden', em que já tinha feito a demo com a voz feminina e tinha a ideia, dentro do conceito da história, de manter a voz feminina. Aí, pintou a ideia da Simone. Ela é amiga do Fabio, ele comentou e a gente gosta muito da voz dela e do Epica. Então, contactamos a Simone, ela curtiu a música e topou. Já a Doro, ela é amiga do Paulo Baron, o empresário. E aí ele sugeriu. Já que tava o Rafa (Bitencourt) e o (Fabio) Lione cantando, ficava o disco quase como uma ópera - com vários cantores, vários momentos, cada um com o seu papel. Então, foi meio nessa pegada os convites para as duas mulheres, a Doro e a Simone.
Por falar em participações, em setembro vocês se apresentam no Rock in Rio ao lado da Doro e do Dee Snider (Twisted Sister). Como vai ser essa jam? Dee Snider vai cantar músicas do Angra e vocês vão tocar algo do Twisted Sister?
Isso, a gente vai tocar no Rock in Rio. Mas, a gente não definiu ainda a jam. A Doro, obviamente, vai cantar a música em que ela canta no álbum. E o Dee Snider a gente ainda não definiu. Deve cantar alguma coisa do próprio Twisted Sister. Vamos ver. A gente ainda não conversou sobre o assunto. Mas, é legal que ele topou. É um cara que a gente cresceu ouvindo. Então, vai ser bem legal ter o Dee Snider no show.
Evidentemente, há um tema inevitável. É impossível te entrevistar e não falar sobre tua entrada no Megadeth. Como se deu a aproximação da banda contigo? E até que ponto o fato de morar em Los Angeles contribuiu para esse contato?
Tive um contato com o David Ellefson. Depois o Dave Mustaine ligou para mim. Meio assim sem saber o que estava rolando, só estava conversando com eles por email e telefone. Falei bastante com o Ellefson pelo telefone, ele contando como era o lance. Porque, até então, eu não sabia direito como era o lance da escolha, não sabia se eles tinham vários guitarristas, se eu era um dos finalistas. Enfim, como é que era o negócio. Aí, eu fiz vídeos. Eles não pediram exatamente, mas comentaram que seria legal se eu fizesse vídeos. Então, eu fiz, para eles verem eu tocando as músicas do Megadeth mesmo. Porque, hoje em dia, você entra no YouTube e pode ver, facilmente, como eu toco. Então, não tem esse lance de fazer um teste mesmo. Eles já sabiam do meu estilo, coletaram informações - só depois fiquei sabendo que eles coletaram informações com managers, outros músicos perto deles, sobre mim. Mas, sei lá, como exatamente de onde surgiu a escolha deles. Depois, já fechei o esquema, eles mostraram como ia ser o contrato. E foi tudo muito rápido. Eles anunciaram meu nome, fui para lá, fiquei um mês e meio em estúdio, já me enturmando. Eu gravei as guitarras em duas semanas, mas fiquei basicamente mais um mês me enturmando, aprendendo as músicas - as composições já estavam feitas - e fazendo amizade com o Chris Adler, o batera que também entrou, os produtores, a família do Dave Mustaine - a filha, a mulher, que conheci. Então, foi tudo muito rápido, em um mês e meio eu me enturmei e gravei o disco.
Em abril, Mustaine declarou em sua conta no Twitter que você era o melhor guitarrista que o Megadeth já teve. Levando em conta que a banda já teve Marty Friedman - que você mesmo considera uma influência -, é um enorme elogio, não é?
Eu sou muito fã do Marty Friedman. Inclusive, eu me encontrei com ele agora no Japão. Sempre fui muito fã, eu o respeito demais. O Mustaine declarou… Sei lá, é que hoje essas declarações do Mustaine no Twitter a galera sempre discute, né? Claro que eu fiquei feliz por ele declarar isso. Mas, assim, adoro Marty Friedman e nem acho que sou melhor nem pior que ninguém. E o Megadeth sempre teve uma história de grandes guitarristas na banda e fiquei feliz só de ter sido convidado. De estar na banda e continuar esse legado.O Mustaine declarou isso em um dia em que fiquei no estúdio tocando violão, tocando várias outras coisas. Talvez ele tenha se impressionado com o fato de eu ser um cara com um estilo bem abrangente. Digamos assim. Ele curtiu esse lado, de eu tocar algumas coisas brasileiras, de harmonia, digamos, mais sofisticadas e tal. Talvez seja por isso. E foi muito legal essas declarações.
Por falar no Mustaine, pelo que você conheceu dele até agora, o que pode nos falar acerca da fama de controlador que ele tem?
O clima foi muito bom cara. Ele sabe o que quer. Essa fama de centralizador eu acho que não. Não e sim, né? Na real, quando você tem uma banda, por mais que você esteja há muitos anos e os músicos mudam, qualquer negócio que você tenha… Vamos supor, você tem uma loja e contrata outros caras para gerenciar a loja e o cara não vai chegar e fazer do jeito que ele quer. Se a loja tem um sucesso, ele tem um esquema, tem um conceito e o cara tem que entrar nesse jogo. O Megadeth é uma banda de sucesso com certa cara, com certo esquema. Quando você entra, seja produtor, seja roadie, tem um esquema. E eles, o David Ellefson, o Mustaine, vão falar qual é o esquema. Eu acho que isso é mais do que natural e é fundamental. Então, assim, eu acho que tem que ser um cara que dá as ordens, as diretrizes de como funciona a banda. Mas, ele está aberto a sentar e ouvir. Eu falei várias coisas. Mas, claro, muitas coisas que eu falo, ou que eu sugeri, ele pensa e fala ‘mas isso não é bem Megadeth’. Eu não digo nem musicalmente, mas no geralmente. Megadeth é Megadeth. É que nem tipo tocar Motörhead. Motörhead é Motörhead. AC/DC é AC/DC. Você não pode colocar um solo do John Petrucci no som do AC/DC. Bandas têm conceitos e têm cara e é preciso ser assim. Acho natural e gosto que seja assim.
Você já gravou tudo do novo álbum do Megadeth? Sei que tinha terminado as guitarras bases e faltavam alguns solos. Você fez tudo antes de sair em turnê com o Angra?
Já gravei tudo. Gravei as guitarras. Eu gravei primeiro. E agora o Mustaine deve estar fazendo a parte dele. Infelizmente, não pude acompanhar no estúdio, para ver ele gravando. E ele deve estar teminando. Tenho falado com ele constantemente.
Muitos fãs têm especulado - com preocupação - uma eventual saída tua do Angra. Existe essa possibilidade? Ou quando você acertou com o Megadeth, deixou claro que iria conciliar com o Angra, evitando um choque entre as agendas das duas bandas?
Sobre o Angra, a gente está com todas as datas marcadas para a turnê deste ano. Está tudo certo. Para o ano que vem é que a gente vai ver o que é que vai rolar, com essas agendas. Vai ver os choques, o que é que rola. A gente tem algumas ideias. Mas, a gente não está querendo se preocupar muito com isso agora. Porque, se não, é uma coisa que vai atrapalhar, tanto o lance do Megadeth e o Angra também. Então, a gente vai deixar para se preocupar com isso mais para frente.
Será que poderemos ver, no futuro, o Angra abrindo uma turnê do Megadeth? Nem que seja na próxima vez que o Megadeth venha ao Brasil?
Não sei. São duas bandas completamente diversas, então é difícil conciliar em uma turnê. Mas, claro, tudo pode acontecer. Tipo, algum festival que a gente [Angra] toque, o Megadeth toque também. Isso seria muito legal. Mas, o mercado do Megadeth é mais abrangente, né. Mas, quem sabe uma coisa aqui no Brasil, pode ser que aconteça. A gente tem shows no Brasil agora em junho. E em julho, que o Angra não tinha shows, vou fazer minha estreia com o Megadeth nos palcos. Vai ser num megafestival em Quebec, com Roling Stones, Foo Fighters. Para mim, vai ser uma responsa gigante e um show gigante.
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